quarta-feira, 12 de abril de 2017

O RITUAL PASCAL DA BESTIALIZAÇÃO


Um anúncio publicitário com um casal de ladrões, tal Bonnie and Clyde, a meter-se no carro alvo da publicidade para fugir à perseguição policial, afirmando que o tal carro é o cúmplice perfeito, transforma o crime num bom motivo para comprar um carro.
Rapazes lambendo a cerveja do chão e as meninas treinando o controle do vómito de um deepthroat, com uma banana que um entertainer lhe enfia pela goela abaixo, tudo isto seguido de alguns estragos em quartos de hotel, é o leitmotiv de qualquer viagem de finalistas. Que os pais acreditem ser um ersatz das grandes viagens pelo Mediterrâneo dos séculos XVIII e XIX em que os estudantes descobriam a Grécia, Roma e o Egipto, para depois nos deixaram testemunhos dessa descoberta na música, na poesia e na pintura, é absolutamente patético. Peço desculpa pelo advérbio, mas aprendi de uma mãe televisiva, vice-presidente de uma coisa que todos descobrimos chamar-se CONFAP, cujo único objetivo deve ser o de lembrar aos ignorantes pacóvios que nós somos, que tudo aquilo é “absolutamente” normal, porque não se trata de uma peregrinação a Fátima, hélas!
Parafraseando o almirante Pinheiro de Azevedo e o presidente do Sporting, apetece-me dizer o que estão a pensar. Só não digo porque ainda acredito que a Páscoa e a Quaresma que a antecede não servem para pretexto de férias nem de desregramento dos costumes, mas são valores que fundaram a nossa civilização.  Se estes valores se perdem, não são culpa dos refugiados que nos procuram, nem do terrorismo que nos ataca, mas dos pais que acham absolutamente normal o ritual da bestialização dos filhos, e de todos nós que achamos normal a promoção da cumplicidade de um crime.


na imagem: cena de Herodes da série "A Paixão de Cristo" de Rafael Bordalo Pinheiro

1 comentário: