terça-feira, 30 de agosto de 2016

MAMAS AO LÉU


Agora que anda tudo aflito porque umas querem o lenço na cabeça e outras querem as mamas ao léu (quem é que não quer?), lembrei-me da Nazaré. Afinal o Verão ainda não acabou.
Não foi bem por causa das mamas ao léu que me lembrei da Nazaré, embora fosse um bom motivo, mas porque enquanto esperava no supermercado entretive-me a ler um livro que por lá se vende, sobre os lugares sagrados de Portugal. Excelente livro, mas não comprei. Eu sei! Sovinice minha. E a Nazaré é famosa em todo o mundo, por causa do Mcnamara, e do canhão submarino que faz ondas gigantes e dá o “pão” às suas gentes.
Mas a Nazaré já era famosa antes desta onda, só que se esqueceram. É como as marés. Vai e vem. Já por lá estiveram o Vasco da Gama, a rainha Dª Leonor da Áustria que foi casada com D. Manuel I e era filha de Carlos V, o dono disto tudo, literalmente, e depois foi rainha de França, a D. Leonor, não o Carlos V. (Ainda dizem que agora é que se fazem currículos). A Isabel II da Inglaterra também por lá passou para ver as nazarenas dançarem, mas não subiu ao Sítio e não sabe o que perdeu. S. Francisco Xavier, que é venerado em Goa por cristãos e hindus, também lá foi. Porque a Nazaré sempre foi famosa por causa da sua Senhora. A onda há-de passar, mas a Senhora lá ficará a cuidar das suas gentes. A Senhora de lenço na cabeça, alimentando ao peito o seu filho, e que dá o nome à terra.
A lenda que eu conhecia da Senhora da Nazaré era uma história comum, igual a tantas outras, mas estava enganado. Que o Fuas Roupinho, general de Afonso Henriques e o fundador da nossa marinha, a tinha descoberto debaixo da lapa onde parou o cavalo evitando que caísse no precipício que ali existe. Afinal o Fuas Roupinho já venerava a Santa que era ali conhecida há muito. Salvou-se porque a invocou a tempo de evitar cair quando caçava. Foi um milagre da Senhora, mas não a sua descoberta. Talvez o começo de uma peregrinação.
A história é digna de ser lida e aprendida. Pena que já poucos a conheçam e a que não se dá a devida publicidade. Eu não vou contá-la porque está tudo escrito num pergaminho deixado por um velho monge que ali se acoitou fugido aos mouros: Frei Romano.
Frei Romano foi ali parar juntamente com, imaginem, D. Rodrigo, o último rei visigodo da península, vencido pelos mouros na batalha de Guadalete em 711. Os dois fugiram trazendo com eles a veneranda imagem da Senhora sentada num banco dando de mamar ao filho que trazia ao colo. A imagem seria já muito venerada na própria cidade da Nazaré da Galileia e teria sido esculpida pelo próprio S. José, enternecido ao ver Maria sentada na carpintaria dando de mamar ao filho. Não é uma ternura!?
Depois parece que S. Lucas a pintou (Lucas já pintara, de acordo com a Tradição, o ícone da Virgem de Constantinopla e que trouxeram (roubado) para Veneza). Um monge grego ofereceu-a a S. Jerónimo, este deu-a a Santo Agostinho, e o maior filósofo da Igreja entregou-a ao mosteiro de Cauliniana, em Mérida, na Espanha. Dali veio refugiar-se nos penhascos da Nazaré, que era o fim do Mundo conhecido.
E se frei Romano se tornou ermitão no Sítio, tendo por companhia a Senhora e o menino, o rei Rodrigo refugiou-se no monte Seano, hoje monte de São Bartolomeu, e ali ficou contemplando o Sítio onde sabia estar a Virgem e o menino.
E agora vou confessar-vos um pecado gravíssimo, que isto de falar de mamas ao léu, sejam as de Nossa Senhora ou das meninas na praia, exige confissão: Nunca visitei o monte de São Bartolomeu, a sua capela e a velha igreja de S. Gião. Falta indesculpável. Também, é certo, que não sabia que tinha sido morada de um rei! Só prova que andamos todos desatentos ao que nos rodeia. Foi preciso uma visita ao escaparate de um supermercado!
A Nazaré é famosa? Ah, pois é!

2 comentários:

  1. Gostei de ler. Fez-me recordar os meus tempos de menina.
    Li a lenda de D. Fuas Roupinho, visitei várias vezes a Ermida da Memória. subi o monte de São Bartolomeu, mas confesso, não fazia ideia que tinha lá vivido um rei. Não sabia metade do que escreveu.
    É sempre bom vir à fonte.

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    1. E eu também não. É o que dá esperar junto aos livros do supermercado. Adoro lendas. E tenho de visitar sem falta o monte de São Bartolomeu.

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