sábado, 20 de agosto de 2016

IDIOTICES E ALTA COSTURA


Desculpar-me-á o leitor por começar esta crónica com uma referência ao livro do Génesis, mas de todos os da Bíblia é um dos meus preferidos, para não dizer mais, para não ofender a riqueza teológica de outros. Logo nas primeiras páginas daquele livro encontramos a história do início da alta costura. Alta porque, efectivamente vinda do alto.
Estavam Adão e Eva no Paraíso quando decidiram comer o fruto da árvore proibida (esqueçam a maçã que nunca fez mal a ninguém e não aparece no livro que cito). Aconteceu o que acontece a muita gente que come o que não deve, sentiram-se envergonhados por se descobrirem nus. Vai daí e puseram à volta da cintura uns saiotes feitos com folhas de figueira (esqueçam as parras de videira que não são suficientemente grandes para esconderem os atributos dos pais da humanidade e também não são citadas no livro). Continuando a narrativa do Génesis, o Senhor Deus resolveu passear-se, pela brisa da tarde (o que prova que o Paraíso não devia ser longe daqui, da zona oeste) e deparou com o estado deplorável, sem gosto, dos saiotes dos nossos antepassados. Condoído, o Senhor Deus fez-lhes umas túnicas com a pele de uns animais (os animais tinham já morrido de velhice, pronto), que devem ter ficado lindíssimas, as túnicas, pois o gosto estético do Criador é incontestável.
Serve assim a roupa, com gosto ou sem ela, para esconder a vergonha de nos sentirmos nus. É assim, e sempre foi assim. Obrigar alguém a despir-se só porque os outros não têm vergonha, nem o Senhor Deus se atreveu mesmo quando se envergonharam do corpo que Ele lhes deu.
            Logo após a revolução francesa, foi decretada uma Lei que dizia: "nenhuma pessoa de qualquer sexo poderá constranger qualquer cidadão a vestir-se de uma maneira específica sob pena de ser considerada e tratada como suspeita e perseguida como perturbadora da ordem pública: cada pessoa é livre para vestir-se de acordo com o seu sexo como lhe convém”.
Sábia lei esta dos revolucionários que nem sempre se lembraram da frase de Cícero: “Não basta conquistar a Sabedoria, é preciso usá-la”.
            Estamos habituados a ver nos franceses um elevado sentido e gosto estético, pese embora a falta de estética na escolha dos seus presidentes (com honrosas excepções para as primeiras damas), mas também a admirar o seu gosto pela liberdade. Proibir o acesso às praias do país a mulheres vestidas da cabeça aos pés é um insulto à História, à Liberdade e ao Bom Senso. O ridículo de tamanha estupidez revela-se quando o fato (não o facto) que pretendem proibir é em tudo idêntico ao fato dos surfistas. Que se proíba alguém de tapar a cara terá todo o meu apoio. É uma questão de segurança e nem sequer pode ser questionado em termos religiosos. O Islão não obriga a tapar a cara nem as mãos. A obrigação é um hábito cultural que nós consideramos um abuso. Quem não quiser ser visto, fique em casa.
Outra coisa é obrigar alguém a despir-se. Tenham paciência. Quem defende tal coisa só pode ser um idiota. Repito: IDIOTA, com todas as letras. Eu quero ter o direito de ir à praia de calças, meias e sapatos e camisola de gola alta, embora as não consiga usar, e de barrete enfiado na cabeça. É assim, aliás, que vejo muitos pescadores na nossa praia da Foz do Arelho.
Há muitos anos, quando era jovem adolescente (foi há tanto tempo), li um conto de Edgar Alan Poe cujo título era “The Sistem of Dr.Tarr and Prof. Fether”. Apesar do título e da cidadania americana do escritor, a história passa-se no Sul de França. Não imaginava eu que tantos anos depois o Sul de França me trouxesse à lembrança aquele conto. Nele, que traduzido dá: “o sistema do Doutor Alcatrão e do Senhor Pena”, Edgar Poe conta-nos a história de um manicómio onde se tratavam os idiotas com demasiada brandura. De tal forma que não tardou que os idiotas tomassem conta do hospital e prendessem os sábios, tratando-os a alcatrão e penas. Foi o que nos aconteceu. Os idiotas tomaram conta disto tudo e transformam este mundo num imenso manicómio. Se duvidam leiam as últimas sobre a nomeação dos gestores da CGD.
Apetece-me terminar como termina o conto de Egar Poe referindo-se ao sistema de alcatrão e penas, mesmo correndo o risco de vos dar ideias sobre o tratamento a dar aos idiotas que nos governam, aqui e no Mundo!
“… um sistema verdadeiramente excelente, de facto...  simples… asseado… sem complicações … delicioso deveras… Era…”

4 comentários:

  1. Lindo, João! A idiotice está a ganhar terreno em todos os cantos e recantos do nosso mundo! Nada melhor que uma dose de reflexão e humor para repor as coisas no sítio!! O meu país de liberdade está a perder os sentidos, a tornar-se numa fantochada de imbecis incentivando o ódio!

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    1. Está tudo doido, Marine. Gostei de te ver por aqui. Beijinhos.

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  2. Pois é João, quando vi que o burkini ia ser proibido também pensei nos surfistas.
    Enfim, mais uma acha para a fogueira.

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    1. A mim, por vezes (vou pouco à praia) até me faz mal ver certos corpos mal escondidos em biquínis e que o burkini até lhes vinha a calhar, mas nunca me passaria pela cabeça proibir o que quer que fosse.

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