quarta-feira, 30 de março de 2016

PER ESSO IO MORIRÒ


A notícia de uma mulher que se atira ao mar para nadar atrás do barco onde julga ir o marido, ou de um homem que desvia um avião para poder ver, e entregar uma carta, à ex-mulher, deixa-nos com um sorriso nos lábios. Lembra-nos o passado “normal” dos suicídios do jovem Werther ou da Mariana do Amor de Perdição, e nos faz esquecer o futuro apocalíptico dos cintos de bombas dos que matam por ódio na esperança de um prazer que não o Amor.

Um passado como canta Natália de Andrade, desafinado neste mundo de horrores: “Um amor que não pode ser posto em palavras… só por ele viverei senão, por ele morrerei” (da ária de Leonora do Trovador de Verdi).


…per esso io morirò!


sexta-feira, 25 de março de 2016

PÁSCOA, PÃO DE LÓ E PIRATAS


Procurando coisas doces para oferecer neste período Pascal deu-me um amargo de boca quando li que o pão de ló seria uma invenção de um genovês. Dizem que o italiano quis obsequiar o rei espanhol Fernando IV com um bolo doce e leve, isto em meados do século XVIII. Veio-me logo ao palato todo o vernáculo camiliano apimentado com o do Aquilino que não lhe fica atrás. Um genovês? Outra vez? (Até rima!) Que tenham feito o alentejano Colombo, genovês, a gente aguenta, agora o pão de ló, alto e pára o baile.

É claro que isto de reclamar a portucalidade do pão de ló exige muito estudo e trabalho, pelo que me atirei às pesquisas, que são os genoveses piratas de muita manha. Ora acontece que quando o tal genovês ofereceu o bolo ao Fernando IV, que não sabemos se o empurrou com malvasia como dizia o Cesário, já o Japão se tinha fechado em copas e de Nagasaki ninguém passava, que é cidade fundada por portugueses, caso não saibam. Complica-se a coisa com Castela, Génova e Japão e dizem os meus leitores que ensandeci. Ainda não!

Acontece que no Japão se come um bolo que em tempos só se oferecia ao imperador, tal o custo do açúcar naquelas paragens. Hoje é muito popular e chamam-no Kasutera que é uma corruptela de Castela: “o pão de Castela”. O tal bolinho japonês, dizem os próprios, foi-lhes levado pelos portugueses no século XVI, duzentos anos antes do Fernando IV se ter embuchado com o bolo do genovês. Ora cá está a prova de que o pão de Ló, levado nas naus e caravelas, saiu das mãos das nossas meninas postas em convento e não das de um genovês (podia lá um pirata ter tamanha sensibilidade?).

Comam-no à moda de Ovar, de Rio Maior ou de Alfeizerão. Por mim prefiro o da Ti’Piedade do Painho. Batam muitas gemas com açúcar até cansar os braços. Juntem farinha (pouca) caída do alto para aventar e a seguir as claras batidas em castelo, em menor número que as gemas, que o bolo quer-se como as camisolas do Estoril praia. Vai ao forno a cozer, mas não muito, a não ser que gostem dele seco e nessa altura há que o comer acompanhado com a malvasia, que é vinho da Madeira cantado por Shakespeare, ou com um Porto vintage, para não embuchar.
                       
Uma Santa e Feliz Páscoa.


Na imagem: prato da fábrica Rafael Bordalo Pinheiro, aguardando o pão de Ló que há de ser cozinhado, porque hoje é dia de jejum!

quinta-feira, 17 de março de 2016

ADMIRÁVEL MUNDO NOVO

Dizia o Dr. Salazar que a democracia era muito bonita mas para ingleses que eram gente culta e educada. Para os povos do sul devia haver mão forte que soubesse conduzir o povo bruto e analfabeto. Na senda deste pensamento, pasme-se, aparece agora o Dr. Rui Tavares que, numa crónica que assina no Público e onde faz questão de se intitular como “historiador, fundador do Livre”, escreve que reconhece o Brasil mas não os brasileiros. Foi o fundador do Livre ao Brasil (quem é que não gosta de trocar o inverno europeu pelo verão permanente do Brasil?) e pasmou-se com o que viu. Isto é, reconheceu a maravilha que Lula e Dilma construíram mas que o Povo, machista, racista e classista, não reconhece. Pior, o Povo ingrato acusa os magníficos políticos de uma corrupção que, aos olhos de Tavares, não passam de bocas da reacção. Isto é, Lula e Dilma são bons demais para Povo tão antiquado.
- A democracia é uma chatice, Dr. Tavares, historiador e fundador do Livre.
Nós por cá não temos de que nos queixar. O deputado do PAN, preocupado com o nosso bem estar, obrigou os deputados a discutir uma proposta de redução de IVA para um copo que, afinal, já era taxado por toda a gente que o vendia com a redução agora aprovada e que decorria da leitura da legislação sobre o assunto. O copo vaginal que o leitor/a não faz ideia do que é, tal como eu e 90 % da população portuguesa, passa a ser taxado a 6% para o IVA, como sempre aconteceu desde que os tais copos se vendem, mas agora fica mais claro porque os deputados têm mais que fazer do que andar a ler as leis do país. Tenho para mim que tal como aquele boicote ao livrinho do Henrique Raposo, isto não passou de uma bem montada e orquestrada campanha publicitária ao tal copo. O que é que o deputado do PAN ganha com isso, não sei, mas metade da população do país fica-lhe eternamente agradecida.

“A felicidade no casamento é uma questão de sorte”. Esta é uma frase célebre do não menos célebre livro de Jane Austen: Orgulho e Preconceito. Vai daí, um realizador de filmes entendeu que as cinco meninas do livro não deviam sujeitar a felicidade à sorte e pô-las a lutar contra zombies. Isto sempre impecavelmente vestidas e trajadas ao estilo que vai do directório à regência, dançando com a mesma agilidade com que atacam mortos vivos. Resta-nos saber se usarão ou não copos vaginais, agora que ficaram mais baratos devido à previdente iniciativa dos nossos deputados. Cá por mim, entre Lula e Dilma, eu escolho a Jane Austen mesmo com zombies.


terça-feira, 8 de março de 2016

CARTA ASTROLÓGICA PRESIDENCIAL



É Lua Nova quando o fulgor do Sol ofusca por completo o pálido brilho da Lua. Amanhã dia 9, é a tomada de posse do novo presidente da República. O trânsito astronómico diz-nos que a Lua apresenta-se na fase de Nova, e é por isso que o brilho do solar Marcelo ofusca por completo o mandato sempre decrescente de Cavaco que acaba no zénite mais minguante, consequência evidente daquele inenarrável, indigno e azedo discurso de vitória do seu segundo mandato (o azedume estraga o brilho dos astros).
O brilho solar abre agora a porta para um novo ciclo. É uma Lua Nova que se apresenta. Só lhe resta crescer para contentamento de todos nós! E não nos esqueçamos que neste novo mandato, Saturno, mestre idoso e severo, transita por Sagitário, o signo astrológico do novo presidente, o que augura uma maturidade disciplinada do génio criativo e livre do sagitariano Marcelo. Se juntarmos a passagem neste dia do asteroide 2013TX68 perto da órbita da Terra, fazendo-se convidado à festa, podemos afirmar que temos Homem!
Os astros não mentem…

domingo, 6 de março de 2016

HENRIQUE RAPOSO E RAQUEL VARELA: O DIREITO AO DISPARATE


Henrique Raposo é um historiador “amestrado” em Ciências Políticas (a piada não é minha mas vem assim escrito no site da empresa que lhe vende os livros). É também cronista em jornais e revistas, mantendo uma crónica semanal no Expresso, sendo esta a qualidade que o torna conhecido. Escreveu um livro onde conta coisas do seu Alentejo, ao que parece no mesmo tom com que escreve as crónicas: provocador. Como toda a gente sabe o Alentejo é aquela zona do país que foi adoptada pela burguesia como ersatz de um campo que nunca vivenciou. Tal como os adoçantes substituem o açúcar sem engordar, o Alentejo permite que os burgueses da capital sujem as botas com a lama que salpica dos jeeps, evitando assim o cheiro do chiqueiro dos porcos que nunca conheceram. O Alentejo vinga-se tornando-se hoje na zona do país onde se pode comer e beber a preços semelhantes aos dos boulevards de Paris, sem que a qualidade corresponda sempre ao preço exorbitante. Por isso o Henrique Raposo, apesar de alentejano, não podia meter-se com o Alentejo. Caiu o Carmo e a Trindade e já quiseram proibir-lhe o livro. Parece que diz muitos disparates, tal como o Orçamento do Estado deste governo e de todos os governos que o antecederam. Diz ele que as alentejanas deixam-se violar por desconhecerem termo em português que defina o acto e acrescenta que os alentejanos se suicidam muito por causa de coisas que não correspondem à verdade no parecer dos especialistas. Isto, é claro, foi o que eu ouvi dizer porque, à semelhança dos que querem proibir-lhe o livro, não o li nem faço tenção de o ler.
Raquel Varela, que é tão inteligente como bonita, isto é: muito, licenciou-se em Direito e fez pós graduações em História, dedicando-se à investigação dos fenómenos sociais. Do alto da sua cátedra, no programa da RTP3: “O Último Apaga a Luz”, desancou no Henrique Raposo, que deve estar habituado pois há muito que é o saco de boxe da Esquerda pensante do país. Afirmou que o senhor só dizia disparates mas que lhe reconhecia o direito de os dizer e, por isso, era contra qualquer tipo de censura. Afirmou que quer as mulheres do Norte quer as do Sul nunca falam em violação porque dizem “aquilo”, e quem não sabe disto é tolo. Eu acho que Raquel Varela tem razão (entre o Henrique Raposo e a Raquel Varela eu escolho sempre a Raquel), mas escusava, para fazer valer o direito ao disparate, de afirmar disparates. Que diabo, que um cronista de jornais diga disparates, a gente percebe, mas que a Professora Titular Visitante da Universidade Federal Fluminense faça análise social sem se desligar dos seus preconceitos ideológicos e anti-religiosos, para além de disparatado é pouco científico. Ainda às voltas com o levantamento popular generalizado dos colonizados nas ex-colónias que a Professora diz ter havido sem que nós, os colonos, tenhamos dado por isso, ouvi agora na TV, a professora dizer que o Alentejo tem muitas razões para explicar os numerosos suicídios, e adiantou um: O Alentejo é mais pagão (sic), muito por influência (no pensar dela) das raízes islâmicas, pelo que a Igreja não impôs ali o medo do pecado e assim, os alentejanos podiam, sem culpa, suicidar-se, ao contrário dos do Norte que se arrastavam pela vida sem lhe pôr termo com medo das penas do Inferno (desconheço se Raquel Varela alguma vez leu Torga que escreveu sobre o “abafador” que as gentes do norte usavam como eutanásia). Eu, que não sou do norte nem do sul, mas do XXXsul, sempre adianto que quer a imensidão da planície quer a pequenez do vale entre serras me aumentam a pulsão suicida. Por isso prefiro o mar ficando a aguardar que Raquel Varela me explique porquê.
Ora sendo o Islão, tal como o Judaísmo, a religião que mais combateu e combate o paganismo, acusando mesmo os católicos, fazendo coro com judeus e protestantes, de contemporizarem em demasia com o paganismo, daí o culto das imagens, há de a professora Raquel Varela explicar como foi que o Alentejo ficou pagão. E há de explicar ainda, sendo o Norte tão católico, por que razão associamos a Galiza, Minho e Trá-os-Montes a bruxas, aos maus-olhados e aos responsos, trazendo ao de cima todo o paganismo celta mal apagado pelo fervor inquisitorial católico. Confunde Raquel Varela descrença com paganismo, o que é um disparate pois não há nada mais religioso que o paganismo.
O Alentejo não é muito religioso, parece ser um facto (não sou especialista) mas é por isso que não pode ser pagão, porque é descrente. Raquel Varela, tal como Henrique Raposo, tem o direito ao disparate. Como Professora não tem o direito de colocar a ciência de lado para fazer valer o preconceito ideológico que a toma por inteiro. Pode errar mas não pode disparatar.

quinta-feira, 3 de março de 2016

AS MENINAS QUE VÃO EM FUTEBÓIS


A história é velha e relha, mas sempre renovada. A moça tinha 15 anos, mais dois do que a famosa Julieta do bardo inglês, que isto passa-se em terras de Sua Majestade. Não consta que Romeu fosse jogador de bola, mas a Julieta desta história era uma fã emotiva de um jogador de bola com 28 anos. Tem lugar cativo no estádio onde ele joga, espera por ele na porta do clube para umas selfies, grita emocionada, usa tshirts com o seu nome, oferecem-lhe um bolo de aniversário com o futebolista como decoração, e um dia o jovem futebolista oferece-lhe uma camisola autografada. Amigos de facebook, telemóveis trocados, que vivemos na era digital, o futebolista pergunta se a oferta tem ou não retorno. A jovem acha-lhe piada, faz-se coquete, e como as suas referências são os raps que ouve e os big brothers que vê na TV, seduzida pela fama que lê nas revistas, um dia entra no carro do futebolista, que deve ser uma máquina, suponho eu.
São jovens, cheios de vitalidade e a natureza não se expulsa com as forquilhas dos decretos. Dito em latim que é mais bonito: Naturam expelias furca, tamen usque recurret. Aconteceu o que não devia acontecer de acordo com a Lei. A Natureza, essa, tem muita força e o rapaz até se chama Adão.
A moça gravou a conversa para provar às amigas a conquista. Contente, contou-lhes os pormenores não gravados do que ali se passou, que isto de troféus só tem graça quando exibidos. Tal como a heroína desta tragédia, as amigas são suficientemente patetas para fazerem uma página de facebook sobre o tema, onde se conta o que devia manter-se em privado. A moça aflige-se, assusta-se com as proporções que o caso toma, sente que está em perigo e que em perigo está o futebolista de quem é fã e mais qualquer coisa que nem ela sabe bem o quê. A pressão é muita, não aguenta e conta ao pai, que conta à polícia que entrega aos juízes o futebolista traído pela testosterona e pela patetice de ligar a uma fã que é uma criança porque a sociedade assim determinou. Entretanto o tribunal exibe fotos da genitália do rapaz, porque é necessário comparar o comprimento dos pelos púbicos que a moça diz que ele não tem…!!?
Fosse a história há cem anos, quando se guardavam as filhas, o pai matava o rapaz e a menina ia para o convento. Na melhor das hipóteses, e como o partido é apetecível, obrigava o rapaz a casar com a moça e fazia-se uma festa de arromba tudo pago com o ordenado do futebolista. Hoje, a menina sofre bullying na escola, e mais tarde tem uma história para contar aos netos que se enfadam com a falta de picante. O rapaz passa uma temporada na cadeia e fica com a carreira de futebolista destruída. No meio disto tudo resolva o leitor quem é a vítima e quem é o culpado…
Moral da História: não há qualquer moral, porque a palavra, tal como decoro e pudor, é feia e proibida para a geração “casa dos segredos”. A permissividade dos costumes é completa porque a queremos assim, convencidos que os jogadores de bola, tal como as nossas adolescentes, são um poço de virtudes e não é preciso guardar nem prevenir! Convencemo-nos que a Lei garante o respeito pelas barreiras artificiais da idade que variam conforme a latitude e a longitude. Se 15 anos são pouco em Inglaterra, é suficiente em França. Já em Portugal, Alemanha e Brasil a barreira desce para os 14 anos, e na Argentina para os 13 anos. Em Angola 12 anos, e já se é uma mulheraça! Com as balzaquianas não há problema desde que se prove estarem sóbrias…
O que ainda me admira é querermos colher trigo onde semeamos joio!