Durante um jantar em sua casa, Mr. Richard, o pai de
Carlos e de Jenny, entre vapores etílicos e tabaqueiros, pede ao amigo, Mr.
Brains, que cante. Este acede com gosto.
Passa-se isto no Porto do século XIX, em casa de um
rico comerciante inglês ali instalado, como se lê nas páginas do romance de
Júlio Diniz, “Uma família inglesa”, que eu tive a sorte de ser obrigado a ler
por fazer parte do programa escolar. Júlio Diniz aproveita a deixa do inglês
cantor para afirmar que a nossa nação é, de todas, a mais avessa ao canto.
Acrescenta ainda que ninguém nos leva a palma à pouca disposição de nos
ocuparmos de coisas sérias, o que aumenta mais a estranheza por aquela aversão.
Acontece que Júlio Diniz tem sido ultimamente
desmentido. Não que tenhamos tomado o gosto pela ocupação de coisas sérias, mas
por termos, de repente, ganhado maior gosto pelo canto.
Para o demonstrar é ver por onde andam os ministros
do governo que logo escutaremos uma canção do Zeca. Sempre a mesma,
desafinadinha, é certo, mas não se pode pedir muito à nação que tão recentemente
tomou o gosto pelo canto: com tempo e insistência, afinaremos!
Não se fala por aí de outra coisa e este gosto
repentino talvez seja mais uma prova do aquecimento global, não sei. Fico agora
a aguardar que a outra afirmação de Júlio Diniz seja desmentida e passemos a
ocupar-nos de coisas sérias.
Entretanto, talvez umas lições de canto…
Já diria o sr. Camilo, empregado de uma das mais antigas fábricas de louça das Caldas, infelizmente já fechada:
ResponderEliminar"Quem canta os seus males espanta"
No caso actual o mal ainda não foi espantado, mas pelo andar da carruagem vamos ter mais uns "boys" no Teatro Nacional na próxima opereta, intitulada "Daqui só saio quando me pagarem a indemnização choruda ou quando me derem um doutoramento honoris causa".
Valha-nos a senhora dos cacos (ou casos) perdidos.
Se é para espantar os males, muito teremos de cantar.
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