Santiago
Carrillo, o líder histórico do partido comunista espanhol, ombreando com o
ex-franquista Suárez, a quem Carrillo chamava o “anticomunista inteligente”, e
com o general Mellado, permanecem firmes e resolutos em defesa da democracia,
durante o assalto de Tejero ao congresso dos deputados em Madrid. Estava-se em
1981 e o dia 23 de Fevereiro morria por detrás do pico Almanzor.
Quarenta e
oito anos antes, noutra noite fria de Fevereiro, Berlim ilumina-se com o
Reichstag em chamas. Hitler, interrompendo o jantar, confidencia a Goering que
aquele é o sinal dos céus. Mais tarde dirá a um jornalista que aquele incêndio
do parlamento alemão é o início de uma época de ouro na história da Alemanha.
Para além da
destruição dos respectivos parlamentos, estes dois acontecimentos tinham em
comum, como pano de fundo, crises financeiras tremendas e desemprego galopante.
Os dois visavam a instituição de uma ditadura, objectivo histórico de qualquer
assalto a parlamentos. Se no último a tragédia durou escassas horas, no
primeiro teve a duração de um horror que não se conta em tempo.
Dizia Marx que
a história se repete: primeiro em tragédia, depois em farsa. O que vimos ontem
ao fim da tarde, para além da destruição das calçadas de Lisboa, foi a farsa em
que quiseram transformar a justa indignação das pessoas.
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