quinta-feira, 15 de novembro de 2012

AS PEDRAS DA CALÇADA


Santiago Carrillo, o líder histórico do partido comunista espanhol, ombreando com o ex-franquista Suárez, a quem Carrillo chamava o “anticomunista inteligente”, e com o general Mellado, permanecem firmes e resolutos em defesa da democracia, durante o assalto de Tejero ao congresso dos deputados em Madrid. Estava-se em 1981 e o dia 23 de Fevereiro morria por detrás do pico Almanzor.
Quarenta e oito anos antes, noutra noite fria de Fevereiro, Berlim ilumina-se com o Reichstag em chamas. Hitler, interrompendo o jantar, confidencia a Goering que aquele é o sinal dos céus. Mais tarde dirá a um jornalista que aquele incêndio do parlamento alemão é o início de uma época de ouro na história da Alemanha.
Para além da destruição dos respectivos parlamentos, estes dois acontecimentos tinham em comum, como pano de fundo, crises financeiras tremendas e desemprego galopante. Os dois visavam a instituição de uma ditadura, objectivo histórico de qualquer assalto a parlamentos. Se no último a tragédia durou escassas horas, no primeiro teve a duração de um horror que não se conta em tempo.
Dizia Marx que a história se repete: primeiro em tragédia, depois em farsa. O que vimos ontem ao fim da tarde, para além da destruição das calçadas de Lisboa, foi a farsa em que quiseram transformar a justa indignação das pessoas.



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